segunda-feira, 21 de março de 2011

Mumia Abu-Jamal – Ao Vivo Do Corredor Da Morte (parte 2)

Continuando o artigo sobre Mumia, pra quem não acompanhou a parte 1, link.


“Não me fale do vale da sombra e da morte. Eu vivo nele.”

Assim Mumia Abu-Jamal inicia seu livro: Ao Vivo Do Corredor Da Morte publicado nos EUA em 1995; a tradução brasileira foi lançada em 2001 pela Conrad Editora.


Neste livro escrito de 1989 a 1994, Mumia em textos curtos relata suas experiências e o cotidiano do corredor da morte. Quando começou a escrevê-lo já aguardava ser morto legalmente pelo Estado americano a sete anos. No momento em que Abu-Jamal foi condenado à morte pelo Tribunal da Pensilvânia pensaram que o problema havia sido resolvido. Enganaram-se. O problema, de nome Mumia, ganhou reconhecimento internacional, do Togo a Berlim manifestações pediram sua liberdade. Ele que já era repórter passou a transmitir direto do inferno.


Cada palavra contida em seu livro é um soco no establishment norte-americano e um ataque a todo sistema penitenciário. Descrevendo cenas reais do dia-a-dia no corredor, fornece-nos uma tenebrosa visão do quão horrível pode se tornar um local habitado por seres humanos que estão vivendo (?) seus últimos dias, literalmente.


Frequentemente, Mumia cita dados estatísticos embasando sua ideia de que a pena de morte é uma forma legal de o Estado norte-americano eliminar @s negr@s. Isso fica escuro, no momento em que ele revela que no país (EUA) @s negr@s são 11% e no corredor da morte são 40%. Em seu Estado (Pensilvânia) a situação é pior @s negr@s representam 9% da população e 60% do corredor.

Passeata pedindo a liberdade de Mumia


Com um grande conhecimento da legislação e da jurisprudência, Mumia cita inúmeros casos e decisões judiciais enriquecendo seus escritos, valorizando seus argumentos. Especialmente quando mostra um estudo, acerca da aplicação da pena de morte, nos deparamos com a cruel situação a qual @s afroamerican@s estão expostos.


Entre algumas conclusões do estudo estão:

  • Cerca de 6 em cada 11 réus acusados de matar brancos teriam se livrado da pena de morte se a vítima fosse negra;
  • 20 em cada 34 réus negros não teriam sido condenados à morte se a vítima fosse negra;
  • A raça (das vítimas) determina se a pena de morte é aplicável.


É difícil ler o livro e não ser terminantemente contra a pena de morte, Abu-Jamal expõe bons argumentos para isso. Ele a questiona, revelando sua aplicação falha e pondo em xeque todo o sistema carcerário e sua utilidade para a sociedade. Ademais, somos instigados a repensar nossa visão sobre vários assuntos referentes ao sistema penitenciário, além de pensar sobre o benefício (?) do agravamento das penas.


Embora exija sua liberdade, Mumia não fez de seu livro um monólogo sobre sua inocência, pois sabe que seu destino está interligado ao destino de todo povo afroamericano. Enquanto todo o povo estiver preso, mesmo “livre”, ele estará preso.











“A solução não está nos tribunais, mas em despertar e advertir o povo.”

Mumia Abu-Jamal

1 comentários:

Adriana Cardoso Sampaio disse...

Nunca tinha ouvido falar neste autor e revolucionário afro-americano... Mas concordo plenamente com suas conclusões acerca da perseguição ainda latente contra pessoas descendentes africanos! É absurdo aceitar a pena de morte pra qualquer pessoa - quem decide quem deve morrer? Pensar que a pena de morte é utlizada para "branquear" os presídios e o países americanos é despertar para uma liberdade inexistente para os/as descendentes africanos/as...
E fico a pensar: fora dos presídios tem sido diferente?

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